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E o resto não importa

In Editorial de Pasárgada, Tênis on setembro 15, 2010 at 2:03 pm

Quando Nadal vencia seus primeiros títulos em Roland Garros, ele ficava modesto em seu canto, sem nenhum tipo de exaltação para história – mesmo sendo, em seis anos, pentacampeão, e já fazendo história.

Hoje, poucos dias depois de completar seu Grand Slam, ele permanece na sua, dizendo que Federer ainda é o maior de todos – quando todos querem vê-lo justamente ao menos duvidando disso e pondo alguma chance de ele, um tenista de 24 anos, ser o maior da história.

A questão é que isso nada importa. Sabe-se lá, talvez algum dia algum psicanalista desvende que, lá no fundo, o espanhol quer e sempre quis, sim, ser o maior da história… Mas, ao que tudo indica, isso é absolutamente secundário.

Números por números, a estatística está aí para quem quiser usá-la. Quando Federer alcançou seu 15 Slam, a página da ATP estampou números absurdos, estrondosos. Hoje, ela tem uma tabela que mostra alguns dados em que Nadal é imensamente superior ao suíço.

E Sampras ganhou 14 Slams e é recordista em Wimbledon, mas Agassi fechou o Slam. E Borg foi um monstro na França e na Wimbledon… E… E…

E nada disso importa. E tudo também indica que daí brota a diferença primeva entre Nadal e Federer.

Federer sempre quis ser o melhor. Quando muito jovem, ainda sem grande expressão, era um tenista arredio, irritadiço, que quebrava raquetes porque as coisas não saíam como queria. E ainda hoje, quando perde partidas como o US Open para Del Potro em 2009 ou Wimbledon para Nadal em 2008, diz: “são partidas que eu deveria ter vencido”.

Federer sente que está sempre em débito com a história, achando que seus 16 Slams são pouco – que deveria na verdade ter pelo menos 20. Já Nadal sente que está quase sempre em débito consigo mesmo, não acha que o que fez é pouco – mas sabe que pode sempre melhorar.

Mas Federer, jogando pela história, é individualista: joga centrado em si, sem muitas emoções, e sempre comemora seus títulos chorando, sozinho. Já Nadal, jogando por si próprio, vibra muito, joga com o público e não raro fala da família e comemora com a mesma.

Todos querem que Nadal diga que ele pode um dia ser maior que Federer – mas isso não importa para ele.

Porque “um dia” não significa nada: tudo que significa é “o dia de hoje”. “Um dia” é futuro, que engloba o passado dele, e isso é história. Porque “o dia” é somente o momento do momento, aquilo que somos, mortais e imperfeitos – mas sempre passíveis de aperfeiçoamento.

Eu prefiro, disparado, o estilo de Federer. É mágico, imprevisível. Capricho artístico, beleza suprema. O quase inatingível. Mas quem vê Federer pensa: isso é para Deuses. E desiste: não adiante nem tentar.

Mas eu prefiro, disparado, a postura do Nadal. É dedicada, concentrada, aplicada. Devoção total, crença absoluta. A entrega completa. Quem vê Nadal pensa assim: isso para Titãs. E se inspira: eu posso e devo tentar o meu melhor.

Sempre.